Horizonte errado

É aqui, pinto meus pesadelos, derreto mesmo diante de pedras de gelo, aqui eu me encontro de um jeito que não é real, mas aqui também me perco...




A fila do banheiro estava enorme, desconhecidos batiam selvagemente na porta e pediam aos berros que eu terminasse logo, não conseguia me incomodar com eles, como em um sonho (ou pesadelo se prefirir) eu estava distante pra caralho de qualquer lugar, debruçada sobre o pia, destruíndo o resto do pó, que algum desconhecido me ofereceu gentilmente (provavelmente na esperança de me deixar doidona e me comer depois). Saí do banheiro ainda mais distante do que já estava, o tal deconhecido me encarou com um sorriso estranho, como o gato da Alice em uma versão psicopata.
- E aí?- perguntou feliz demais para apagar o sorriso estúpido dos lábios.
- Era do bom!
- Cheirou tudo?
- Aham!- e com isso entrei novamente na pista, atrás claro, dele.

Fácil encontrá-lo, observei durante algum tempo, ele dançava agarrado com um cara, comprei duas cervejas e fui até ele, assim que me viu deu um pulinho, se pendurou no meu pescoço e me beijou. Eu poderia passar o resto da vida beijando o Alváro, o resto da vida cheirando pó e vendo ele beijar homens desconhecidos.

O deconhecido que dançava com ele se aproximou, o beijei rindo, o Al riu ainda mais e beijou a primeira garota que viu, acabei me cansando de tanto beijo, baguncei o cabelo loiro do Al e berrei:

- Vou estar no bar!!- ele concordou e se agarrou com alguém.

Pedi uma vodka e fiquei bebericando, um cara sentou no banco ao lado, como era bonito, sorri o meu mais excitante sorriso, de repente nos reconhecemos:
- A gente trepou ontem não foi??- falamos ao mesmo tempo. Olhei ao redor e vi meio chocada que eu já tinha trepado com quase todos os presentes.

Virei a vodka e pensei: -"Tô precisando trocar de boate!"




"Muito bem, depois de séculos mergulhada, no oceano raso e inútil da paixão. Porra eu escrevi isso? Enfim, esse blog está um drama sem fim, muito pior do que novela mexicana, ou melhor, se você observar que aqui ao menos não tem dublagem..."


- Porra, tu tá animada, geralmente eu é que sou assim não é?- Fábio comentou, me encarando com aquela cara de analista que eu detesto.
- É, né?- Cheguei perto do ouvido dele- Descobri um fornecedor de pó!!
Exagerei na cara de alucinada e mordi a língua para não rir da cara de espanto que ele fez.
- Sérioooo??
- Aham!
Ele sacudiu a cabeça desanimado como quem diz: "Essa não tem jeito!" e foi encher o saco de outro. Fiquei um pouco deprimida, porra, esse pessoal realmente não me conhece, caralho, esperava que ao menos não achassem, que eu sou um aspirador de pó descontrolado, mas não, eles se guiam e se enganam por essa maquiagem de puta e os palavrões que falo, poxa sou uma garota tímida e delicada que apenas se esconde atrás de um personagem, decididamente mereço um pouco mais de confiança. Fiquei uns vinte minutos pensando na falta de crédito que eu tinha com meus amigos, aí a música acabou, quando o Dj perguntou o que a pista queria ouvir, não tive dúvidas, subi no balcão e berrei:

- Toca de uma de zona!!

(Poxa, ninguém é de ferro, é?)




É isso garota, te deixo uma pista frágil e mentirosa se você desejar...
Estive dormindo, dormindo e sonhando com você, quando foi que eu acordei e continuei a fingir que dormia? Quando foi que deixei você ferrar com a minha cabeça? Quando?
É garota, culpa dessas músicas, esses filmes,essas malditas séries de merda, culpa sua, culpa minha... Quantas culpas me arrastam para você?

Acendo o cigarro de qualquer jeito, não penso em você, apenas deixei de pensar, deixei de respirar e talvez até mesmo de viver. Queria que você fosse um sorvete de brigadeiro (lembra dessa piada?) assim eu poderia te devorar, lamber os seus restos e te vomitar no primeiro vaso, seria simples me livrar de você, seria.

Você não é um sorvete, você é uma culpa. Uma conta a ser paga, um sexo a ser feito, uma vontade e não adianta dizer que é nula.

Acordo enfim, abro os olhos meio sem jeito, dói não te ver mais nos meus sonhos, dói te enchergar sem morrer um pouco, de qualquer jeito dói. Esse é o adeus, a beira da sua sepultura abandonada, ainda posso secar a última lágrima e dizer no seu ouvido morto:
- Adeus minha rainha!