Horizonte errado

É aqui, pinto meus pesadelos, derreto mesmo diante de pedras de gelo, aqui eu me encontro de um jeito que não é real, mas aqui também me perco...

Isso é entediante! Sabe essa coisa de “amor da minha” ,“não vivo sem você” e o pior: “eu te amo”. As pessoas parecem tão certas quando dizem isso (a quem quer que seja) passei séculos acreditando piamente na pureza desses termos mentirosos e pérfidos, séculos alegando o desespero passional de não poder ou saber viver sem determinada pessoa, séculos jurando mentiras em nome de paixões débeis, séculos trepando e acreditando que estava fazendo “amor”.
Senhoras e senhores, agora eu pergunto: Qual é a razão dessa merda toda? Os supostos apaixonados amam puramente em função própria, para enaltecer a ação simplória de viver em função de um ser (quanto pior o ser, maior a paixão e por sua vez maior o egoísmo do suposto apaixonado)
Exemplo clássico é aquela nossa amiga que acaba de descobrir (como se ela já não soubesse) que o homem da vida dela (outro termo detestável) é um cretino, qual é o discurso dela? “Eu fiz TUDO, por ele!”. Minha filha por algum acaso ele pediu o seu sacrifício absoluto? No máximo te fez uma dúzia de promessas ridículas, e você minha querida acreditou única e exclusivamente por que, quis mostrar para todos inclusive você mesma que sim, conseguiu o grande amor da sua vida como pregam aqueles contos estúpidos que lêem (para nossa desgraça) quando somos crianças.
O que existe então? Sexo, costume, egoísmo, tédio, autopromoção...

Como diria o Nietzsche: “Amor é a expressão mais natural do egoísmo.”





Olhei para baixo, olhos enfim secos, o coração dividido em exatos 3.000 pedaços inconstantes, as pessoas olhavam para mim com expressões tão desesperadas, que tive de sorrir por uns breves segundos. Pessoas adoram uma tragédia, não é? Ao vivo então ganha um bônus de desespero concreto e possivelmente mais verdadeiro que os outros, já há alguns meses me obcecava a idéia de me jogar do 10° andar, plano idiota eu sei, de qualquer forma, era um plano quase poético de salto para a morte certa; imaginava o vento fazendo uma última caricia em meu rosto durante o salto, meus cabelos em adorável desalinho se misturando ao sangue que por certo sairia do meu crânio esmagado, um quadro perfeito, bonito demais para ser dispensado em nome de uma vida qualquer, em nome da minha vida.
Enquanto imaginava o melhor jeito de pular, brinquei de distinguir as pessoas lá embaixo, e não é que ela estava lá? Com a mesma expressão de desespero dos demais, tive de sorrir novamente, ela nunca demonstrava desespero, exceto diante de uma barata, sempre pedia com os olhos marejados e aos gritos que eu desse um jeito no abominável mostro de 3 cm, mas isso foi antes, bem antes do 10° andar ter tanta importância, antes da minha queda se transformar em redenção total de uma vida incompleta e desnecessariamente vivida, antes da descoberta de uma paixão ilusória e mesquinha, que eu ingenuamente alimentava em prol da minha suposta bondade, não importava mais, nenhuma concepção errônea de meus atos falhos poderia explicar o vazio estático da falta de um motivo, um motivo auto-suficiente que justificasse aquela vida rasa e mentirosa , não quando meus pés se apoiavam na amurada e eu sentia meu corpo mergulhar...

Não existem maneiras seguras de ser completamente feliz, existem? É tudo focado em algum motivo, algum combustível que te faça perder tempo e energia com algo totalmente sem sentido, como levantar da cama todas as manhãs e achar isso completamente plausível.

Por que se preocupar tanto com essa coisinha chamada felicidade, quando na verdade ela é que ferra completamente com a nossa vida? Meus dias tem sido uma sucessão besta de horas vazias por que eu quero, por que as horas vazias são completamente seguras, te impedem de cair em qualquer história mentirosa, que vai te destruir quando na última frase aparecer a palavra FIM.

Então funciona de um jeito tão simples que chega a dar dó, assisto minhas aulas da UFMA com cara de quem tá amando, almoço como se estivesse de fato sentindo o gosto da comida, assino minha presença no projeto de extensão, como se eu soubesse exatamente o que fazer, sorrio de piadas bestas e ouço Vanguart encolhida em um canto escuro qualquer. Essa é a minha sucessão de horas seguras, quase que uma rota de fuga, mas quem não está fugindo, não é?

Deveria te agradecer, você fudeu completamente com a minha cabeça...
E agora eu não sei o que fazer com esse amor todo.

É simples não é? Você ama, mesmo sabendo isso vai em algum momento fuder contigo, mas fuder tão completamente, que quando acabar você não vai conseguir andar e nem articular alguma palavra de consolo, talvez um pensamento débil, mas isso é apenas um talvez. Então é isso? Você se isenta da responsabilidade, fazendo de conta que o amor é um caminhão desgovernado que cruelmente te atropelou e fudeu com a sua cabeça? Pode falar isso também, não vai fazer diferença, nunca faz diferença de porra nenhuma, sabe por que? Não, você não sabe...