Horizonte errado

É aqui, pinto meus pesadelos, derreto mesmo diante de pedras de gelo, aqui eu me encontro de um jeito que não é real, mas aqui também me perco...

Tenho que te dizer uma coisa, não é nada bacana você aparecer de madrugada comer toda a minha nutella e chutar meu cachorro, depois me acorda com seus discursos niilistas de fim de feira e me arrasta pra qualquer sarjeta, essa rotina cansa, na verdade tô sem saco, isso meu amor, prestes a mudar de continente para poder fumar meus cigarros em paz.
Lembra da última sexta? Você vomitou no meu tapete persa (vá lá, falsificado, mas ainda sim meu!) fez um furo no meu lençol predileto e declamou Camões a plenos pulmões madrugada adentro...
Não é reclamação, juro que não, na verdade é mais pra uma declaração do quão puta você me deixa e do quanto que eu amo você... E o quanto isso é desnecessário visto que você não vai ler.

P.S: A Nutella sempre vai esperar por você!




Tiro a blusa devagar, jogo em direção a janela, ele ri.
Trago o cigarro com vontade, rodopiando nua pelo quarto, ele aplaude entusiasmado, jogando a camisa no ventilador sujo de poeira, aquilo era tão e tão óbvio, mas ainda sim divertido, me livro da calça jeans com habilidade, jogando a calça pela janela e sorrindo como uma lunática...
- Tem certeza?- Alvaro torna-se de súbito sério, tira o cigarro de minhas mãos e observa a fumaça com um sorriso sinistro, tiro o soutien com apenas um gesto, digo de uma vez:
- Tenho! Vai dar uma ótima matéria nos jornais, não acha? vamos ficar famosos, vamos virar deuses!
Ele explode em uma gargalhada débil.
- Não, deuses não...
Subi na cama, rodopiando sempre, peguei a garrafa de vodka e gritei com toda a força que meu pulmão ainda possuia:
- Eu te amo!
Ele tirou a calça jeans, pulou na cama, me beijando com o desespero tipico de quem já não possui tanto tempo, o envolvi com meus braços, sentindo a paixão maluca que a gente sentia, as mãos dele acariciaram gentilmente meus seios, enquanto a sua boca percorria o meu pescoço, o afastei e o encarei com toda a intensidade que conseguia reunir em um olhar apenas, Alvaro beijou minha testa, me mostrou o isqueiro, entendi o recado, tirei o galão de gasolina debaixo da cama e despejei o conteúdo pelo quarto.
Alvaro me observava gargalhando.
- Algum cara não dizia que o amor é fogo que arde sem se ver? Ele com certeza, nunca imaginária um troço desses!
- Vamos ficar juntos pra sempre, tipo Romeu e julieta! Com a diferença de que eles nunca existiram!
Esvaziei o galão, como em uma dança e me joguei na cama, estendi os braços pra ele, sorri de maneira cruel.
- Vamos querido?
Ele acendeu um cigarro, tragando apenas uma vez e o jogando em uma cadeira que prontamente ardeu em chamas, pulou em cima de mim gritando:
- Vamos!!
Enquanto o quarto se transformava em um inferno, Alvaro segurava minha mão e baixinho declamava:

-Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;