Horizonte errado

É aqui, pinto meus pesadelos, derreto mesmo diante de pedras de gelo, aqui eu me encontro de um jeito que não é real, mas aqui também me perco...



- Meus cigarros acabaram - comentei casualmente enquanto levantava em busca das minhas roupas. Álvaro resmungou debilmente e aumentou o som, heart in a cage (the strokes) tomou conta do quarto e eu desejei desesperadamente não um cigarro, mas um motivo bom o bastante para continuar viva pelo resto do dia.

Respira Lie, pensei em desespero,porra não vai chorar agora, agora não, ninguém precisa saber que você ainda sabe chorar muito menos o Al... Caralho

Aquela coisa molhada saindo dos seus olhos, um soluço fodido e irritante preso na merda da sua garganta, é mais ou menos assim que eu levanto, lutando para não me jogar da sacada e nem colocar veneno na comida de alguém, é tudo assim tão horrível?? Sim é. Corri pra cozinha enquanto uma lágrima fina descia indiferente no meu rosto. Álvaro vindo sabe-se lá da onde me ofereceu um lenço.
- Nunca vou saber o que é pior!!- ele confessou me oferecendo um cigarro.
- Nem eu...


Post interno.

"Caminhando por entre becos escuros e ausências imundas, é somente você que enxergo, seu olhar calmo me persegue, me fita através de janelas quebradas e azulejos rachados. A sua voz calma me persegue em um silêncio de morte, explicando adjetivos pavorosos e transitoriedades detalhadas.
É uma cidade vazia, com dezenas de ruas e centenas de casas, infinitas esquinas e numerosas lembranças opacas, você está em tudo, como um fantasma, feliz brincando de assombrar alguma criancinha no escuro, não, eu não sou mais uma criança no escuro, mas ainda me apavora a idéia de tatear na penumbra e não te encontrar (eu nunca te encontro).
Queria a cidade apenas para o meu deleite, seria um eterno memorial particular e você meu amor nunca iria partir, ou iria??

Eu sei essa droga de cidade continua com seus míseros: 165.896, porém desde que você se foi, ela é uma cidade fantasma!"


P.S: Gente o Alvaro, (da última postagem)é bissexual, certo??




Depois de mais um fim de semana estranho e mais uma briga épica com o Al, a campanhinha toca na segunda como um castigo, não preciso de esforço pra saber que é o Alváro com a porra do rabinho entre as pernas e com um pedido de desculpas na garganta, abro a porta já acostumada com a cena que estava por vir.

Ele estava parado, mãos nos bolsos, intacto e lindo como sempre, as vezes esqueço como o Al é constrangedoramente bonito.
- Desculpa ter queimado suas calcinhas e envenenado o gato- ele começou limpando a garganta- ele não morreu, né??
- Era veneno de rato, Al! Ele nem sequer comeu!
- Ah... Posso entrar?
- Você mora aqui, né??

Ficou parado na porta, com cara de maior abandonado, toquei seu ombro de leve.

- Quer café?

Ele finalmente entrou e foi logo gritando:
- Cadê minha coleção de G Magazine ? (Revista gay masculina)

- Queimei, e também queimei aquela tua agenda de contatos...
Nos encaramos e explodiamos em uma gargalhada.
- Porra, Natalie quando a gente brigar apenas me mande dormir no sofá, tá?? Algum dia a gente vai ser preso por incediar o apartamento!!
- Ok- concordei ainda rindo - Chega de piromania!!
- Podemos voltar a nos amar pra sempre??- ele tirou uma mecha de cabelo do meu rosto e deu o seu melhor sorriso.
O encarei sonhadoramente e disse apenas:
- Sempre! Mas me empresta uma cueca, você queimou TODAS as minhas calcinhas, sabe?
- Ei, no último fim de semana, você queimou TODAS as minhas cuecas!!
- Claro, você tava se agarrando com aquelazinha do Paulo, mantenha o nível, né??
- O nivel?? Olha...

Beijei o Al e decidi esquecer esse lance de cuecas e calcinhas por um tempo.