Horizonte errado

É aqui, pinto meus pesadelos, derreto mesmo diante de pedras de gelo, aqui eu me encontro de um jeito que não é real, mas aqui também me perco...

Pior que acordar em camas desconhecidas, sentindo gostos desconhecidos é não saber, por quantas vezes mais vão destruir minhas ilusões (tão duramente pintadas em vermelho cabaré) meus sentimentos falhos, quantas vezes ainda terei de recriar minha vida, quantas mergulharei de prédios sem vida, não encontrando descanso e quantas outras ainda acabarei por acreditar em qualquer coisa que seja? A curiosidade se espalha pelos cantos escuros (empoeirados) dos meus pensamentos, a grande verdade é que ainda sou aquela garotinha idiota encolhida na mesa de algum bar rezando meio sem fé, em deuses que me fizeram crer existir...
Criatividade, só preciso disso para me sentir melhor, faço de conta que sei onde isso vai dar (na verdade sei sim, sempre soube) me concentro em coisas, que nem sequer existem, fico esperando algo que me faça vibrar como uma dessas cordas de guitarra, algo que faça valer toda essa curiosidade besta de um futuro tão tedioso quanto o presente. Peço uma bebida enquanto isso, vou fingir (magestralmente) que sei o que fazer, conheço onde piso, até já ensaiei minhas falas e se você quiser esperar comigo, beber comigo, dormir comigo, morrer comigo, eu estou aqui. Eu sempre vou estar.

Poderia ter sido qualquer pessoa cruzando a entrada do Campus, mas não, era você e isso muda tudo. É possível se (re)apaixonar por alguém apenas por dividir o mesmo ônibus? Na metade de um segundo você acenou, na outra metade eu era sua outra vez.
Amaldiçoei a minha memória, lembrei de tudo com uma nitidez estúpida e por isso mesmo dolorosa, a textura da sua mão ainda me arrepia nem preciso de toque, nem presença, apenas a lembrança da sua respiração no meu pescoço, salva (arruína) meu dia.
Digo seu nome baixinho, experimentando as letras que o compõem, saboreando as silabas, acariciando o som produzido, lembro agora que ele foi a coisa mais sagrada que já pronunciei nas esquinas sem luz dessa cidade, nos becos impuros dos meus pensamentos te carregando e protegendo de tudo e todos...
Você sentou justamente na cadeira da frente me sorriu e mergulhou em seus próprios pensamentos, acalentei uma esperança besta de recomeço, de volta, te teria de volta assim de maneira total e perfeita. Sorri dos meus devaneios frágeis e voltei a olhar a paisagem deprimente que se desenha enquanto não chego na Ufma, uma pena não se poder fumar no ônibus!