Horizonte errado

É aqui, pinto meus pesadelos, derreto mesmo diante de pedras de gelo, aqui eu me encontro de um jeito que não é real, mas aqui também me perco...




Espalhei cacos de vidro depois de todos os meus passos, uma trilha desajeitada que só você poderia se dignar a seguir, você não seguiu e isso me enche de uma alegria mesquinha e desesperada, como se meu caminho brilhante de vidro em pedaços acariciasse meu rosto com mãos frias e sensuais. Eu te observo do meu próprio mundo, espetando um boneco de vodu inexistente, você cortou os barbantes e deixou de ser a minha marionete orgânica, isso não tem perdão, isso merece perdão. Me perdoa?
Tantas bombas, gritos, impropérios e sangue. O arame farpado envolve seu corpo, que sangra como em um pranto reverso, me acusa de culpa profunda e paixão extingue, você vai acreditar em mim se eu mudar o canal? Vai rir da minha piada sem sentido? Vai continuar aqui, mesmo que isso signifique a sua morte?
Vai me amar, mesmo que eu não te ame? A sua negativa faz minha agulha mergulhar fundo e nos afogar diante de tudo isso, que não foi bom o bastante e nem cruel o suficiente.


Para ler ouvindo: Across The Universe - The Beatles.

Vai parecer papo de fim ano, talvez seja, mas preciso crescer, não posso mais me dar ao luxo de criar reinos e fábulas a cada mês, não posso mais viver dentro da minha cabeça e não enfrentar meus medos. Não posso sufocar todos os meus sentimentos absurdos com piadas geniais de última hora, não posso inventar rotas de fuga de todos os meus problemas, não preciso disso, ninguém precisa na verdade.

Não consigo conversar com pessoa alguma, falar besteira não é conversar, estou chocada que com 23 anos eu não consiga isso. Por isso preciso desse tempo, preciso colocar as coisas no lugar, preciso saber quem diabos eu sou de uma vez por todas... É a unica coisa que me interessa.

Véspera de Natal, encaro o celular de cinco em cinco minutos, chego a quase discar o número, desisto nos últimos segundos, talvez o natal consiga me deprimir ou talvez eu só esteja com saudades de ouvir a sua voz, talvez eu ponha Vanguart pra tocar ou talvez eu simplesmente durma, mas se isso acontecer vou acabar sonhando com você...

"The horses are coming
So you better run"
Florence And The Machine-Dog Days Are Over.


Não há escapatória, caminhos de salvação ou atalhos confiáveis, existe o vazio; esse barulho silencioso que o vento faz, quando quer que meu medo abrace tudo, isso me assusta, então corto essa linha fina devagar, me aventuro a espiar cavalos do apocalipse, um dia vou montar em um deles, não vou precisar me esconder debaixo da cama ou correr descalça por cima de cacos de vidro. Vou fugir e você vai me ver cortando o céu, deixando um rastro de poeira e pedaços incontestáveis de mim, quando você ouvir os cavalos chegando vai lembrar de tudo, com uma nitidez esmagadora e talvez corra, não por amor, mas porque é a unica coisa que vai restar para você.




- Vou dar um tempo no Blog! - resmunguei de qualquer jeito.
- Porque?? - Lúcia, amarra o cabelo com uma piranha quebrada e sorri.
- Não tenho droga nenhuma para contar e nem quero mais beber, sem contar que estou de saco cheio das pessoas, vou acabar matando alguém!
- Ah, sei como é, quando me canso de todo mundo, faço o seguinte; faço de conta que é a última vez que estou vendo a pessoa, é perfeito!!
- Já sei, imaginando que seria a última vez, que você vê essa pessoa, acaba pensando na falta que ela ia fazer, né? E aí a trata com carinho!!
- Claro que não!! Fico tão feliz por ser a última vez que a vejo, que consigo tratá-la bem, funciona direitinho!!
- ...

- Ai, cansei!- Luísa entregou, apagando o cigarro na sola da bota.
- Cansou de quê?- Diogo pergunta mais por educação que por curiosidade.
- Ahhh, de tudo, né? Diogooo - responde em um misto de preguiça e infantilidade, que mesmo sabendo ser ridículo ela adorava repetir.
- Pode ser mais específica?- a paciência dele se extinguindo rapidamente, como de praxe.

- Claro, meu amor!- ela se empolga, levanta do meio fio e limpa a maquiagem borrada- Cansei de trepar com deus e o mundo, de beber, de fumar maconha até não sentir mais o maxilar, de pessoas vazias, de freqüentar o mesmo bar, de cheirar pó e ficar com o nariz sangrando, de perder minhas calcinhas por aí, de tropeçar em escadas, de achar grande coisa passar 48 horas bêbada, de aturar os seguranças dando em cima de mim... Cansei!!

Diogo a encara um pouco chocada:
- Posso ficar com teus cigarros?
Luísa joga pra ele um maço de Marlboro.
- Vai fazer o que agora??
Ela pensar por uns segundos e responde com um sorriso:
- Crescer!

Porco-Aranha!!
Porco-Aranha!!
Poco Porco
e Mais Aranha
Vai Tecendo
a Sua Teia...


ASHHUASUHSAHUSAHHASHAUSUHSAHUSAHUUHASHUASHHUASHASHU

P.S:Banalidades!!

Acho um verdadeiro absurdo, pessoas ficarem fiscalizando o que escrevo para depois espalharem por aí o que ando sentindo, aproveito para dizer que não é da conta de ninguém, além da minha própria!! Que saco, embora pareça eu não sou mais criança, se ando desesperada ou ordinariamente deprimida a porra do problema é meu... É só isso mesmo, agora vamos ao post de hoje!!


- Quer conversar??
- Não...
- Comer pipoca?
- Não...
- Queimar calcinhas?
- Não...
- Beber?
- Não...
- Suicídio coletivo?
- Não...
- Assaltar um banco com um cabo de vassoura??
- Já é!!

Obs: Quanto mais falta nexo, menos vocês entendem!! ^^



- Meus cigarros acabaram - comentei casualmente enquanto levantava em busca das minhas roupas. Álvaro resmungou debilmente e aumentou o som, heart in a cage (the strokes) tomou conta do quarto e eu desejei desesperadamente não um cigarro, mas um motivo bom o bastante para continuar viva pelo resto do dia.

Respira Lie, pensei em desespero,porra não vai chorar agora, agora não, ninguém precisa saber que você ainda sabe chorar muito menos o Al... Caralho

Aquela coisa molhada saindo dos seus olhos, um soluço fodido e irritante preso na merda da sua garganta, é mais ou menos assim que eu levanto, lutando para não me jogar da sacada e nem colocar veneno na comida de alguém, é tudo assim tão horrível?? Sim é. Corri pra cozinha enquanto uma lágrima fina descia indiferente no meu rosto. Álvaro vindo sabe-se lá da onde me ofereceu um lenço.
- Nunca vou saber o que é pior!!- ele confessou me oferecendo um cigarro.
- Nem eu...


Post interno.

"Caminhando por entre becos escuros e ausências imundas, é somente você que enxergo, seu olhar calmo me persegue, me fita através de janelas quebradas e azulejos rachados. A sua voz calma me persegue em um silêncio de morte, explicando adjetivos pavorosos e transitoriedades detalhadas.
É uma cidade vazia, com dezenas de ruas e centenas de casas, infinitas esquinas e numerosas lembranças opacas, você está em tudo, como um fantasma, feliz brincando de assombrar alguma criancinha no escuro, não, eu não sou mais uma criança no escuro, mas ainda me apavora a idéia de tatear na penumbra e não te encontrar (eu nunca te encontro).
Queria a cidade apenas para o meu deleite, seria um eterno memorial particular e você meu amor nunca iria partir, ou iria??

Eu sei essa droga de cidade continua com seus míseros: 165.896, porém desde que você se foi, ela é uma cidade fantasma!"


P.S: Gente o Alvaro, (da última postagem)é bissexual, certo??




Depois de mais um fim de semana estranho e mais uma briga épica com o Al, a campanhinha toca na segunda como um castigo, não preciso de esforço pra saber que é o Alváro com a porra do rabinho entre as pernas e com um pedido de desculpas na garganta, abro a porta já acostumada com a cena que estava por vir.

Ele estava parado, mãos nos bolsos, intacto e lindo como sempre, as vezes esqueço como o Al é constrangedoramente bonito.
- Desculpa ter queimado suas calcinhas e envenenado o gato- ele começou limpando a garganta- ele não morreu, né??
- Era veneno de rato, Al! Ele nem sequer comeu!
- Ah... Posso entrar?
- Você mora aqui, né??

Ficou parado na porta, com cara de maior abandonado, toquei seu ombro de leve.

- Quer café?

Ele finalmente entrou e foi logo gritando:
- Cadê minha coleção de G Magazine ? (Revista gay masculina)

- Queimei, e também queimei aquela tua agenda de contatos...
Nos encaramos e explodiamos em uma gargalhada.
- Porra, Natalie quando a gente brigar apenas me mande dormir no sofá, tá?? Algum dia a gente vai ser preso por incediar o apartamento!!
- Ok- concordei ainda rindo - Chega de piromania!!
- Podemos voltar a nos amar pra sempre??- ele tirou uma mecha de cabelo do meu rosto e deu o seu melhor sorriso.
O encarei sonhadoramente e disse apenas:
- Sempre! Mas me empresta uma cueca, você queimou TODAS as minhas calcinhas, sabe?
- Ei, no último fim de semana, você queimou TODAS as minhas cuecas!!
- Claro, você tava se agarrando com aquelazinha do Paulo, mantenha o nível, né??
- O nivel?? Olha...

Beijei o Al e decidi esquecer esse lance de cuecas e calcinhas por um tempo.




Saí da igreja, a felicidade de ver a rua depois de 2 horas interruptas de conversa mole me deixava satisfeita a ponto de sorrir sozinha, disse sozinha? Lúcia se apoiava no meu braço esquerdo, caindo de bêbada como sempre.
-Pensando bem- disse ela meio arrastado- Não quero mais ser freira... Padres são estranhos e juro que o coroinha piscou pra mim!!
Não pude deixar de rir, Lúcia estava com a idéia fixa de fazer algo decente pra variar, tanto que depois de umas tequilas me arrastou para a primeira igreja que viu.
Mas acho que o padre e o seu sermão sobre o camelo, que poderia entrar no buraco da agulha, decepcionou um pouquinho a Lu. Graças a Deus!!
Lúcia soltou meu braço, coisa que detesto,sempre me sinto meio sem direção quando ela faz isso, não pude deixar de imaginar mais uma vez (talvez a enéssima da noite) onde diabos ela tinha estado durante aqueles meses todos, sentia vontade de abraçá-la e pedir baixinho que ela nunca mais sequer fosse ao banheiro sem mim.
- Onde você esteve?- perguntei simplesmente enquanto acendia um cigarro, ela o pegou da minha mão, tragou profundamente olhando um gatinho de rua e sorrindo meio idiota.
- Você não me queria aqui, Natalie... - ela cantarolou rodopiando.
Entrou em um bar qualquer, só voltou a falar quando a cerveja estava na metade:
- Natalie, me diz o que diabos eu ia fazer aqui? Você estava aí toda apaixonadinha por aquela garota e surtou como uma adolescente patética quando ela te chutou, não sou obrigada a tolerar certas coisas. – Ela falava sem olhar pra mim, fitava o cigarro com ternura, a voz era fina, não sabia se ela estava prestes a rir ou chorar.
- Então a culpa foi minha?- considerei, sem contudo acreditar em um absurdo desgraçado daquele.
Lúcia enfim me encarou:
- É você e eu, querida, sempre! O resto é desnecessário, mas acho que você já entendeu, por isso voltei, porque acredito que você já não possui coração algum e isso faz de nós duas uma só!
Uma lágrima fina escapou dos seus olhos negros e eu não pude deixar de concordar quando vi o reflexo da nossa mesa no espelho: Eu sozinha, diante de dois copos, enquanto o resto do bar mergulhado em fumaças ilícitas jazia em barulho de morte.
Sussurrei ao seu ouvido quando a beijei:
-Uma só...




A fila do banheiro estava enorme, desconhecidos batiam selvagemente na porta e pediam aos berros que eu terminasse logo, não conseguia me incomodar com eles, como em um sonho (ou pesadelo se prefirir) eu estava distante pra caralho de qualquer lugar, debruçada sobre o pia, destruíndo o resto do pó, que algum desconhecido me ofereceu gentilmente (provavelmente na esperança de me deixar doidona e me comer depois). Saí do banheiro ainda mais distante do que já estava, o tal deconhecido me encarou com um sorriso estranho, como o gato da Alice em uma versão psicopata.
- E aí?- perguntou feliz demais para apagar o sorriso estúpido dos lábios.
- Era do bom!
- Cheirou tudo?
- Aham!- e com isso entrei novamente na pista, atrás claro, dele.

Fácil encontrá-lo, observei durante algum tempo, ele dançava agarrado com um cara, comprei duas cervejas e fui até ele, assim que me viu deu um pulinho, se pendurou no meu pescoço e me beijou. Eu poderia passar o resto da vida beijando o Alváro, o resto da vida cheirando pó e vendo ele beijar homens desconhecidos.

O deconhecido que dançava com ele se aproximou, o beijei rindo, o Al riu ainda mais e beijou a primeira garota que viu, acabei me cansando de tanto beijo, baguncei o cabelo loiro do Al e berrei:

- Vou estar no bar!!- ele concordou e se agarrou com alguém.

Pedi uma vodka e fiquei bebericando, um cara sentou no banco ao lado, como era bonito, sorri o meu mais excitante sorriso, de repente nos reconhecemos:
- A gente trepou ontem não foi??- falamos ao mesmo tempo. Olhei ao redor e vi meio chocada que eu já tinha trepado com quase todos os presentes.

Virei a vodka e pensei: -"Tô precisando trocar de boate!"




"Muito bem, depois de séculos mergulhada, no oceano raso e inútil da paixão. Porra eu escrevi isso? Enfim, esse blog está um drama sem fim, muito pior do que novela mexicana, ou melhor, se você observar que aqui ao menos não tem dublagem..."


- Porra, tu tá animada, geralmente eu é que sou assim não é?- Fábio comentou, me encarando com aquela cara de analista que eu detesto.
- É, né?- Cheguei perto do ouvido dele- Descobri um fornecedor de pó!!
Exagerei na cara de alucinada e mordi a língua para não rir da cara de espanto que ele fez.
- Sérioooo??
- Aham!
Ele sacudiu a cabeça desanimado como quem diz: "Essa não tem jeito!" e foi encher o saco de outro. Fiquei um pouco deprimida, porra, esse pessoal realmente não me conhece, caralho, esperava que ao menos não achassem, que eu sou um aspirador de pó descontrolado, mas não, eles se guiam e se enganam por essa maquiagem de puta e os palavrões que falo, poxa sou uma garota tímida e delicada que apenas se esconde atrás de um personagem, decididamente mereço um pouco mais de confiança. Fiquei uns vinte minutos pensando na falta de crédito que eu tinha com meus amigos, aí a música acabou, quando o Dj perguntou o que a pista queria ouvir, não tive dúvidas, subi no balcão e berrei:

- Toca de uma de zona!!

(Poxa, ninguém é de ferro, é?)




É isso garota, te deixo uma pista frágil e mentirosa se você desejar...
Estive dormindo, dormindo e sonhando com você, quando foi que eu acordei e continuei a fingir que dormia? Quando foi que deixei você ferrar com a minha cabeça? Quando?
É garota, culpa dessas músicas, esses filmes,essas malditas séries de merda, culpa sua, culpa minha... Quantas culpas me arrastam para você?

Acendo o cigarro de qualquer jeito, não penso em você, apenas deixei de pensar, deixei de respirar e talvez até mesmo de viver. Queria que você fosse um sorvete de brigadeiro (lembra dessa piada?) assim eu poderia te devorar, lamber os seus restos e te vomitar no primeiro vaso, seria simples me livrar de você, seria.

Você não é um sorvete, você é uma culpa. Uma conta a ser paga, um sexo a ser feito, uma vontade e não adianta dizer que é nula.

Acordo enfim, abro os olhos meio sem jeito, dói não te ver mais nos meus sonhos, dói te enchergar sem morrer um pouco, de qualquer jeito dói. Esse é o adeus, a beira da sua sepultura abandonada, ainda posso secar a última lágrima e dizer no seu ouvido morto:
- Adeus minha rainha!

Meio louco te falar isso agora, não vai me odiar, mas eu não gosto de você, sabe?? Seus olhinhos brilhantes me irritam, a sua voz de timbre perfeito me enerva e decididamente você trepa mal pra caralho...

Beijos e não me liga!!

P.S: Estava brigando com o vento!

E daqui pra frente, será assim meu amor, tudo que eu não falei é pra você, assim como todos os gestos de infantilidade desvairada são seus, os porres memoráveis, as noites insones e as de sexo desesperado com pessoas cujos nomes não me recordo, a meia garrafa de vinho barato, as poesias medíocres de dar dó, o medo brutal da solidão, os sapatos sujos de lama, tudo isso é seu, eu sei, meu legado de ruína e amor incondicional não chocam os teus olhos transparentes, pode renegar a sua herança, fazer de conta que nunca me conheceu, fazer de conta que a tua língua não cortou meus pulsos e não verteu meu sangue até a última gota.
É tudo seu, por que depois de você, já não sou capaz de sentir nada, você me desligou da realidade e tudo que consigo esboçar é um retrato infiel e tênue da minha existência devastada, depois de você eu já não sonho, já não procuro, nem sequer sofro, você me transformou em uma boneca orgânica despida de qualquer busca inútil de felicidade barata.
Aqui expresso meu agradecimento e entrego de bom grado, tudo o que restou de mim, faça bom proveito.

(Testamento de uma idiota que achava lindo morrer de amor)




"Chega de declarações paliativas e insignificantes, você sabe muito bem o que significou para mim, sabe da navalha que utilizei para separar você de um objetivo, sabe de tudo e isso só torna as coisas inúteis."

Penso nisso enquanto esmago a ponta de um cigarro no balcão, o garçom me olha torto, reclama sem vontade:"Isso vai deixar uma mancha". O encaro divertida, no fim tudo acaba se tratando de manchas não é verdade? Você, eu, o garçom, esse blog raso e a minha paixão constantemente devastadora e igualmente rasa.

Manchas, baby é disso que estou falando, seja em sofás, tapetes, paredes ou lençois de motel, elas existem para assegurar a existência tênue de qualquer situção concreta (ou não). Embora você também já saiba disso...

“- O que vai ser?
A garçonete loira e provavelmente gostosa crava os olhos em mim a espera de uma resposta coerente e prática, passo a língua nos lábios tento ganhar tempo, observo se minhas unhas estão bem feitas e disparo sem piedade:
- Todos os seus cabelos são dessa cor ou a moça só tem grana pra pintar os da cabeça?
Ela ri meio debochada:
- Assisti a porra desse filme e não vou te mostrar minha buceta!!
- Uma garota pode ter esperanças!!- concordo com um singelo sorriso- me dá qualquer coisa coberta de queijo e uma cerveja!
Antes de ir ela chega perto e sussurra no meu ouvido:
- Saio as onze...”

Aí eu pergunto, tem como não gostar de filmes brasileiros?

Obs: Filme amarelo manga.
Obs²: No último post esqueci de mencionar palhaços!!

Ex-detentos, garis, viciados, traficantes, flanelinhas, primos de 1° grau, caras que não tomavam banho, alcoólatras, pederastas, mendigos, esquizofrênicos, compulsivos sexuais, gays, travestis, evangélicos, judeus, sociopatas, mulçumanos, colegiais, aposentados, taxistas, peões e frentistas.
Ela não descartava nenhum, podia-se ouvir madrugada adentro gemidos insanos e gritos desesperados, tapas e insultos que aos olhos dela, podiam se transformar nas coisas mais excitantes do mundo. O cheiro de sêmen, suor e perfume barato invadiam minhas narinas como em um estupro, me fazendo repudiar ainda mais todos aqueles homens e suas ditas “necessidades” pútridas e seus desejos grotescos, me sentia presa em um circo dos horrores, observando de olhos fechados com asco a pressuposta mulher dos meus dias, metamorfoseando-se em um pesadelo noir de quinta categoria e baixo orçamento.

Obs: Qualquer semelhança com pessoas reais é “mera” coincidência.

Isso é entediante! Sabe essa coisa de “amor da minha” ,“não vivo sem você” e o pior: “eu te amo”. As pessoas parecem tão certas quando dizem isso (a quem quer que seja) passei séculos acreditando piamente na pureza desses termos mentirosos e pérfidos, séculos alegando o desespero passional de não poder ou saber viver sem determinada pessoa, séculos jurando mentiras em nome de paixões débeis, séculos trepando e acreditando que estava fazendo “amor”.
Senhoras e senhores, agora eu pergunto: Qual é a razão dessa merda toda? Os supostos apaixonados amam puramente em função própria, para enaltecer a ação simplória de viver em função de um ser (quanto pior o ser, maior a paixão e por sua vez maior o egoísmo do suposto apaixonado)
Exemplo clássico é aquela nossa amiga que acaba de descobrir (como se ela já não soubesse) que o homem da vida dela (outro termo detestável) é um cretino, qual é o discurso dela? “Eu fiz TUDO, por ele!”. Minha filha por algum acaso ele pediu o seu sacrifício absoluto? No máximo te fez uma dúzia de promessas ridículas, e você minha querida acreditou única e exclusivamente por que, quis mostrar para todos inclusive você mesma que sim, conseguiu o grande amor da sua vida como pregam aqueles contos estúpidos que lêem (para nossa desgraça) quando somos crianças.
O que existe então? Sexo, costume, egoísmo, tédio, autopromoção...

Como diria o Nietzsche: “Amor é a expressão mais natural do egoísmo.”





Olhei para baixo, olhos enfim secos, o coração dividido em exatos 3.000 pedaços inconstantes, as pessoas olhavam para mim com expressões tão desesperadas, que tive de sorrir por uns breves segundos. Pessoas adoram uma tragédia, não é? Ao vivo então ganha um bônus de desespero concreto e possivelmente mais verdadeiro que os outros, já há alguns meses me obcecava a idéia de me jogar do 10° andar, plano idiota eu sei, de qualquer forma, era um plano quase poético de salto para a morte certa; imaginava o vento fazendo uma última caricia em meu rosto durante o salto, meus cabelos em adorável desalinho se misturando ao sangue que por certo sairia do meu crânio esmagado, um quadro perfeito, bonito demais para ser dispensado em nome de uma vida qualquer, em nome da minha vida.
Enquanto imaginava o melhor jeito de pular, brinquei de distinguir as pessoas lá embaixo, e não é que ela estava lá? Com a mesma expressão de desespero dos demais, tive de sorrir novamente, ela nunca demonstrava desespero, exceto diante de uma barata, sempre pedia com os olhos marejados e aos gritos que eu desse um jeito no abominável mostro de 3 cm, mas isso foi antes, bem antes do 10° andar ter tanta importância, antes da minha queda se transformar em redenção total de uma vida incompleta e desnecessariamente vivida, antes da descoberta de uma paixão ilusória e mesquinha, que eu ingenuamente alimentava em prol da minha suposta bondade, não importava mais, nenhuma concepção errônea de meus atos falhos poderia explicar o vazio estático da falta de um motivo, um motivo auto-suficiente que justificasse aquela vida rasa e mentirosa , não quando meus pés se apoiavam na amurada e eu sentia meu corpo mergulhar...

Não existem maneiras seguras de ser completamente feliz, existem? É tudo focado em algum motivo, algum combustível que te faça perder tempo e energia com algo totalmente sem sentido, como levantar da cama todas as manhãs e achar isso completamente plausível.

Por que se preocupar tanto com essa coisinha chamada felicidade, quando na verdade ela é que ferra completamente com a nossa vida? Meus dias tem sido uma sucessão besta de horas vazias por que eu quero, por que as horas vazias são completamente seguras, te impedem de cair em qualquer história mentirosa, que vai te destruir quando na última frase aparecer a palavra FIM.

Então funciona de um jeito tão simples que chega a dar dó, assisto minhas aulas da UFMA com cara de quem tá amando, almoço como se estivesse de fato sentindo o gosto da comida, assino minha presença no projeto de extensão, como se eu soubesse exatamente o que fazer, sorrio de piadas bestas e ouço Vanguart encolhida em um canto escuro qualquer. Essa é a minha sucessão de horas seguras, quase que uma rota de fuga, mas quem não está fugindo, não é?

Deveria te agradecer, você fudeu completamente com a minha cabeça...
E agora eu não sei o que fazer com esse amor todo.

É simples não é? Você ama, mesmo sabendo isso vai em algum momento fuder contigo, mas fuder tão completamente, que quando acabar você não vai conseguir andar e nem articular alguma palavra de consolo, talvez um pensamento débil, mas isso é apenas um talvez. Então é isso? Você se isenta da responsabilidade, fazendo de conta que o amor é um caminhão desgovernado que cruelmente te atropelou e fudeu com a sua cabeça? Pode falar isso também, não vai fazer diferença, nunca faz diferença de porra nenhuma, sabe por que? Não, você não sabe...

Papo de msm, 10:00 da matina de um domingo qualquer.

Sibby diz:
preciso fazer umas coisas
pq tu ta direto no msn agoraa?
e pq fica caindo toda hora?

Lie and Lie diz:
estou direto no msn por que sou uma puta desocupada que não tem porra nenhuma pra fazer e vive caindo por que a internet daqui sempre cai toda hora!

Sibby diz:
mas vc sempre foi uma puta desocupada e só tá no msn esses dia

Lie and Lie diz:
Deve ser por que agora sou uma puta desocupada e carente!
como assim eu SEMPRE fui uma puta desocupada?
Sibby diz:
AHAHAHAHAHAHHHAHAHAHA BRINCADEIRA



Sibby o que eu faria sem você??

Lúcia me convida pra uma dessas boates escuras, onde as pessoas transam encostadas nas paredes, faço um pouco de doce e aceito, mesmo sabendo que a idéia é ruim, a Lúcia no geral é uma idéia ruim, mas nunca tenho nada melhor pra fazer do que me sujar com ela.
***

Como era de se esperar a música é uma merda, nada mais do que uma batida repetida e sem nexo, as pessoas devidamente bêbadas e drogadas, se esfregam ao som da enorme sala piscante, entorno o copo que Lúcia tinha abandonado na minha mão, ela pula como uma desvairada, ao ver o copo seco desaparece e volta com drinks de cor indefinida.
- Um brinde!- ela propõe com um sorriso quase perfeito.
- A que?- pergunto aos berros.
- Você e eu!
É o bastante para que eu a tome nos braços, o beijo é rápido, só o bastante para sentir a lingua da Lúcia e pensar na inútilidade daquela noite.

***


Entro no banheiro tropeçando em pernas alheias, a madrugada corre veloz, chega a lembrar um carro desgovernado e sem controle, me ajoelho de qualquer jeito sujando minha calça e vomito no vaso encardido, só consigo pensar em uma coisa nessas horas: "O que porra estou fazendo aqui?" Nunca encontro uma resposta digna ou aceitável. Me encaro no espelho, a maquiagem borrada como sempre, eu parecendo um guaxinim assustado, o nó na garganta me impede de respirar, a raiva vem de mansinho e explode em forma liquida, as lágrimas borrando ainda mais o que deveria me embelezar, saio do banheiro a mil, encontro Lúcia se esfregando em uma garota qualquer, a puxo pelo braço:
- Já deu Lu!
- O que já deu?
- Você, eu e essa porra toda!
Ela me encara compreensiva, acaricia meu rosto com a ternura que ela só tem quando necessário. Me leva pra casa, me dá banho, cozinha pra mim, lê em voz alta meu livro predileto, atende os telefonemas, anota meus recados, pinta meu mundo de cor de rosa, até se cansar e com voz mole pedir:

- Vamos naquela boate que inaugurou?
A encaro vencida:
- Vamos!

A dor é meio mal humorada agora, nem sequer aceita um cigarro, copo de vodka então de jeito algum, deve ser dotada de escrupulos essa minha dor ranzinza e calada. Escreveria uma carta pra ela agora, diria coisas doces que a fariam sentir ainda mais pena da babaca aqui, faria uma tatuagem com o nome dela, gritaria mil vezes a frase clichê e estúpida dos amantes, beberia fel, me jogaria de um prédio em chamas, a minha dor ameaça sorrir, só não sei se é de mim ou para mim, mas acho que isso não importa, isso nunca importou.
Se ela estivesse aqui agora eu diria de maneira dramática: "O único refúgio serias tu!" ela daria aquele meio sorriso torto, que eu amo e diria que eu vivo muito bem sem ela, obrigada e isso só tornaria tudo ainda mais patético.
Minha boca tem um gosto amargo, os olhos pesam, me encolho em um canto qualquer dessa casa enorme e ainda mais vazia desde que ela se foi, acendo um cigarro totalmente desajeitada, minhas mãos tremem tanto que não consigo segurar o maldito hollywood que cai, a dor me comprime, sinto uma angústia tão concreta no peito que parece que vou desistir de respirar a qualquer momento.
A minha dor, fantástica em momentos criticos como esse, apenas me encara com um misto de pena e crueldade, não acaricia meus cabelos como julguei que faria, nem me oferece colo, não faz nada, assiste parada a minha ruína, assiste impássivel a minha destruição quase completa, até que resolve falar:
- Sabe qual é o teu maldito problema Natalie?
Nego com a cebeça, olhar desvairado, perdida pra caralho em qualquer lugar.
- Tu quer uma coisa que não existe!
A observo sem interesse e digo ainda mais desinteressada:
- Vai te foder!




Confesso; vendi minha alma quando vesti aquela blusa e me fitei no espelho,algo como uma segunda pele, ela era perfeita, moldava delicadamente meu corpo e me deixava com um quê de SUPER-MODELO. Não deu outra, me apaixonei de cara pelo meu próprio reflexo, fiquei completamente sem ar assim que esbocei um sorriso, não aquela não poderia ser eu, acho vaidade uma coisa meio inútil, ainda mais nos últimos tempos, nunca estive tão descuidada, ando pra todo lado de havaianas ou então de tênis, me visto com camisões masculinos e há séculos não sei o que é um mero pozinho no rosto, tudo aquilo caiu por terra naquele exato momento.
Quando experimentei a maldita calça da tal Calvin Klein, quase tive um orgasmo de tão linda que ela era, macia, terna, o contado do jeans era uma caricia irresistível, tive medo de me encarar no espelho, continuava com os olhos voltados para o chão namorando com a calça dona de meus suspiros, meio tímida levantei a cabeça com cuidado para me ver... Dei um gritinho extasiado, junto com um salto de pura satisfação, rodopiei alegremente em volta de mim, corri do provador com o sorriso mais desvairado que a minha boca permitia e disse triunfante pra vendedora que me atendia:

- Aceita Visa?

Ele abria e fechava a boca monotonamente, continuei pintando as unhas de vermelho, o cigarro abandonado no canto esquerdo da minha boca, Flávio gesticulava freneticamente como que desesperado por atenção, eu tragava lentamente fazendo o possível pra não borrar minhas unhas e nem ter que ouvir seu dramalhão de merda, aquilo me cansava, a paixão me cansa, me enerva ver o servilismo imbecil tomando conta das pessoas apaixonadas, o brilho irritante nos olhos e os inúmeros de eu te amo, escutar aquilo não passava de uma tortura, uma brincadeira fodidamente sem graça, um musical falido que eu era obrigada a ouvir.
Fitei intensamente minhas unhas pintadas, Flávio explodiu:
- Porra, Natalie está me ouvindo?
O encarei entediada e sussurrei de maneira cínica:
- Não, deveria estar?
Ele resmungou algo incompreensível, retirou o cigarro da minha boca, o amassou e deixou que caísse no tapete.
- Qual é o teu problema, heim?- quis saber ele com um ar cansado.
Ajeitei meu corpo na cadeira e sorrindo perguntei:
- Por que tu gosta de mim?
- Tem que ter um por quê?
- Claro, afinal eu sou exatamente assim, não te escuto, não te beijo e nem sequer te suporto, está mesmo assim tão carente de atenção, ainda que ela não exista?
Ele me encarou com o irritante brilho apaixonado nos olhos:
- O coração tem razões que a própria razão desconhece!
Não pude deixar de rir com aquilo, deve ser por isso que odeio essa estória de paixão é só uma desculpa estúpida para as pessoas perderem a vergonha na cara e se isentarem de culpa, não posso perdoar quem se isenta de culpa, mesmo tendo usado esse mecanismo inúmeras vezes não posso me permitir cair em qualquer armadilha do tipo, não posso e não vou por isso mesmo levanto, beijo a testa do homem que supostamente me ama pra toda a vida e venho pra esse blog descarregar, explicar e disseminar minha total incapacidade de confiar em sentimentos, principalmente os de cunho amorosos.