Horizonte errado

É aqui, pinto meus pesadelos, derreto mesmo diante de pedras de gelo, aqui eu me encontro de um jeito que não é real, mas aqui também me perco...

Papo de msm, 10:00 da matina de um domingo qualquer.

Sibby diz:
preciso fazer umas coisas
pq tu ta direto no msn agoraa?
e pq fica caindo toda hora?

Lie and Lie diz:
estou direto no msn por que sou uma puta desocupada que não tem porra nenhuma pra fazer e vive caindo por que a internet daqui sempre cai toda hora!

Sibby diz:
mas vc sempre foi uma puta desocupada e só tá no msn esses dia

Lie and Lie diz:
Deve ser por que agora sou uma puta desocupada e carente!
como assim eu SEMPRE fui uma puta desocupada?
Sibby diz:
AHAHAHAHAHAHHHAHAHAHA BRINCADEIRA



Sibby o que eu faria sem você??

Lúcia me convida pra uma dessas boates escuras, onde as pessoas transam encostadas nas paredes, faço um pouco de doce e aceito, mesmo sabendo que a idéia é ruim, a Lúcia no geral é uma idéia ruim, mas nunca tenho nada melhor pra fazer do que me sujar com ela.
***

Como era de se esperar a música é uma merda, nada mais do que uma batida repetida e sem nexo, as pessoas devidamente bêbadas e drogadas, se esfregam ao som da enorme sala piscante, entorno o copo que Lúcia tinha abandonado na minha mão, ela pula como uma desvairada, ao ver o copo seco desaparece e volta com drinks de cor indefinida.
- Um brinde!- ela propõe com um sorriso quase perfeito.
- A que?- pergunto aos berros.
- Você e eu!
É o bastante para que eu a tome nos braços, o beijo é rápido, só o bastante para sentir a lingua da Lúcia e pensar na inútilidade daquela noite.

***


Entro no banheiro tropeçando em pernas alheias, a madrugada corre veloz, chega a lembrar um carro desgovernado e sem controle, me ajoelho de qualquer jeito sujando minha calça e vomito no vaso encardido, só consigo pensar em uma coisa nessas horas: "O que porra estou fazendo aqui?" Nunca encontro uma resposta digna ou aceitável. Me encaro no espelho, a maquiagem borrada como sempre, eu parecendo um guaxinim assustado, o nó na garganta me impede de respirar, a raiva vem de mansinho e explode em forma liquida, as lágrimas borrando ainda mais o que deveria me embelezar, saio do banheiro a mil, encontro Lúcia se esfregando em uma garota qualquer, a puxo pelo braço:
- Já deu Lu!
- O que já deu?
- Você, eu e essa porra toda!
Ela me encara compreensiva, acaricia meu rosto com a ternura que ela só tem quando necessário. Me leva pra casa, me dá banho, cozinha pra mim, lê em voz alta meu livro predileto, atende os telefonemas, anota meus recados, pinta meu mundo de cor de rosa, até se cansar e com voz mole pedir:

- Vamos naquela boate que inaugurou?
A encaro vencida:
- Vamos!

A dor é meio mal humorada agora, nem sequer aceita um cigarro, copo de vodka então de jeito algum, deve ser dotada de escrupulos essa minha dor ranzinza e calada. Escreveria uma carta pra ela agora, diria coisas doces que a fariam sentir ainda mais pena da babaca aqui, faria uma tatuagem com o nome dela, gritaria mil vezes a frase clichê e estúpida dos amantes, beberia fel, me jogaria de um prédio em chamas, a minha dor ameaça sorrir, só não sei se é de mim ou para mim, mas acho que isso não importa, isso nunca importou.
Se ela estivesse aqui agora eu diria de maneira dramática: "O único refúgio serias tu!" ela daria aquele meio sorriso torto, que eu amo e diria que eu vivo muito bem sem ela, obrigada e isso só tornaria tudo ainda mais patético.
Minha boca tem um gosto amargo, os olhos pesam, me encolho em um canto qualquer dessa casa enorme e ainda mais vazia desde que ela se foi, acendo um cigarro totalmente desajeitada, minhas mãos tremem tanto que não consigo segurar o maldito hollywood que cai, a dor me comprime, sinto uma angústia tão concreta no peito que parece que vou desistir de respirar a qualquer momento.
A minha dor, fantástica em momentos criticos como esse, apenas me encara com um misto de pena e crueldade, não acaricia meus cabelos como julguei que faria, nem me oferece colo, não faz nada, assiste parada a minha ruína, assiste impássivel a minha destruição quase completa, até que resolve falar:
- Sabe qual é o teu maldito problema Natalie?
Nego com a cebeça, olhar desvairado, perdida pra caralho em qualquer lugar.
- Tu quer uma coisa que não existe!
A observo sem interesse e digo ainda mais desinteressada:
- Vai te foder!