Horizonte errado

É aqui, pinto meus pesadelos, derreto mesmo diante de pedras de gelo, aqui eu me encontro de um jeito que não é real, mas aqui também me perco...





Encarei-me no espelho.
Minutos ou horas perdida em meu próprio reflexo, a maquiagem já meio borrada me deixando com aspecto de palhaço homicida, sorri a contragosto sentindo vontade de vomitar.
-Faz alguma diferença?- Lúcia atrás de mim encarava-me com o típico riso de desdém escapando por entre os lábios vermelhos.
- Claro que não!- resmunguei enquanto molhava minha nuca e tentava melhorar meu ar de puta aposentada.
- Como pode ter tanta certeza?- insistiu ela.
-Me paga uma bebida que eu te explico...
Com o copo devidamente cheio em minha frente comecei com gravidade, a voz cheia de uma segurança falha, mas ainda assim confiável:
- Compreende o poder das palavras?
- Porra, Natalie tu explica eu pergunto!- reclamou Lúcia entornando o copo.
- Que seja! Sabe Lúcia o poder das palavras é mínimo, o valor que elas possuem é o que a gente dá, apenas isso...
- Ah claro- desdenhou Lúcia em sua melhor cara de deboche, tentei não me incomodar com isso e continuei:
- Sério, humm e esse eu me ajoelhasse agora e te jurasse amor eterno?
- Eu ia ficar histérica de tanto rir da tua cara!
- É o que eu estou dizendo Lu, a palavra amor não é nada, além de uma palavrinha de quatro letras e cheia de fãs ávidos por escutá-la da boca de alguém, quando alguém se magoa por ter sido enganado por outrem foi puramente por que quis. Todo mundo tem o maldito direito de falar o que tiver vontade, independente de ser verdade ou mentira, sabe a gente se decepciona com a nossa própria idéia de felicidade...
- Quase acreditei - riu Lúcia, mas ela agora apresentava uma estranha seriedade, os olhos negros cravados em mim, no fundo deles percebi o mesmo desespero que sempre escapa dos meus.
- Aprende rápido!- ri também sem alegria.
- Tirou isso de onde?- ela mudou de assunto acendendo um cigarro .
Fiz biquinho e sussurrei:
- Lu a gente olhou o horizonte errado!- tomei longos goles de vodka e fechei os olhos, a música que tocava (Condicional- Los Hermanos) me deixou com um nó na garganta, é estranho conseguir tocar a própria angústia , mas a toquei fiz um carinho no seu rosto triste e sorri...
- Natalie?
Abri os olhos.
- Acabou que tu não me respondeu! Faz alguma diferença?
Endireitei o corpo na cadeira, a encarei com o meu melhor sorriso :
- Lu, acorda! Não faz a menor diferença, se o Guilherme morresse o que tu ia fazer?
- Eu morreria junto!- ela disse dramática, enquanto acendia outro cigarro e demonstrava pesar enquanto tragava a fumaça.
- Porra nenhuma! O único trabalho que tu ia ter, seria o de mudar o campo “relacionamento” no Orkut!
Lúcia engasgou com a fumaça em meio as próprias risadas e se defendeu, agora com o habitual cinismo marcando a voz:
- Mentirosa! Eu não sou tão fria assim!
- Sabe Lu? Eu te amo!- revelei com uma inesperada ternura, tirando uma mecha de cabelo que cobria parte do rosto dela.
- Eu tenho que acreditar?- ela parou de rir me analisando com os olhos negros duvidosos.
- Me paga outra bebida que eu te respondo...

1 comentários:

gente..um dia num bar por ai !!! adorooooooooo !!!!...
mas essas são verdades...
verdades de um coração, o qual a dona se chama Natalie, ou simplismente Lie !!!!
que o amor não esteja no campo do orkut "Realacionamento"..e sim nos corações dos amantes !!! Dos amantes.....Eu não amo !!!!
bjss....

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